segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Haverá Omega 3 no Atum ao Natural? (post modificado*)

Olhando para a informação nutricional de duas latas de atum, uma em azeite e outra em água (ao natural), posso verificar que a primeira tem obviamente mais gordura que a segunda; contudo, o que me chamou a atenção e incomodou, foi a segunda ter somente 1.5 g de gordura em 100 g.

O atum é (supostamente) um peixe gordo. Como poderia ter tão pouca gordura? E, sendo assim, como poderia alegar ser "rico em Omega - 3", se os ácidos gordos só existem... na gordura (que era tão estranhamente baixa)?

Liguei para um dos fabricantes!
Fiquei bastante insatisfeita com o grau de esclarecimento e conhecimento quer da 1ª quer da 2ª pessoa que me atendeu. Apresentei-me mas não houve interesse no meu nome (sei lá, caso quisessem futuramente enviar-me mais informação do que aquela que me deram por telefone...)

Disseram-me que fizeram a análise e que foram os valores que deram. E que a gordura do peixe sai para a água... E que a quantidade de gordura varia durante o ano, e de variedade para variedade, e há diferentes partes de atum com quantidades de gordura variadas. E quanto à alegação na embalagem, que de facto "não devia" estar lá... e que "vistas as coisas por esse prisma... era uma boa questão" que seria revista brevemente. Ok.

O que eu sei é que de repente temos um peixe magro e que sendo assim, pergunto: manter-se-ão as qualidades nutricionais dum peixe gordo (rico em Omega -3) ?!

Só por curiosidade… O que é este nome estranho, Omega-3?
Sem entrar em grandes complicações, há que explicar que o termo “Omega-3” é apenas uma “morada”, tal como quem diz “3º andar esquerdo”. Esta denominação significa que a primeira ligação dupla entre átomos de carbono situa-se no 3º carbono a contar do lado Omega (um de dois lados) da corrente de carbonos que compõem a espinha dorsal dos elementos básicos das gorduras – os ácidos gordos. Sendo assim, as gorduras ricas em Omega-3 têm mais ácidos gordos compostos por estas ligações do que qualquer outros.

As gorduras mais benéficas na nossa dieta são aquelas ricas em ácidos gordos essenciais Omega-3. São essenciais porque o nosso corpo não as fabrica, por isso é preciso obtermo-las através da alimentação. Como nem todos os ácidos gordos Omega-3 são igualmente benéficos, há que comer uma variedade de fontes, tal como o peixe gordo, as sementes de linhaça (moídas), as nozes, o azeite, etc.

Infelizmente comemos pouco destas gorduras (atum, salmão, sardinhas, linhaça, nozes, azeite) – e abusamos das menos boas e/ou francamente más (fritos, óleo de milho e girassol, carne, queijos, fast food, bolachas, biscoitos e bolinhos secos industriais, etc.).

Há vários problemas que podem estar associados a um desequilíbrio alimentar das gorduras:
- Alergias
- Aterosclerose
- Artrite reumatóide
- Asma
- Bronquite
- Colesterol “mau” elevado
- Colesterol “bom” baixo
- Colite ulcerativa
- Dermatite
- Diabetes
- Doenças cardiovasculares
- Dores menstruais
- Gengivite
- Hipertensão
- Lúpus
- Psoríase
- Triglicéridos elevados

Por isso, ao mesmo tempo que aumentamos a ingestão de Omega-3 devemos baixar todos os outros tipos de gordura. Ou seja, devemos reduzir o consumo das carnes, dos queijos, das manteigas, das margarinas, dos óleos vegetais (milho, girassol, e misturadas, e os fritos) e de todos os alimentos com gorduras vegetais hidrogenadas (bolachas, biscoitos, bolinhos industriais, margarinas duras, refeições congeladas, sobremesas congeladas, etc.). Há que reduzir ao máximo as gorduras vegetais hidrogenadas (gorduras trans, muito prejudiciais para a saúde) tendo em atenção os ingredientes e ler os rótulos.

Isto tudo para dizer... (e ao contrário da minha posição original*), cada 100 g de atum ao natural continua a ser uma boa fonte de omega-3, mesmo quando no rótulo não menciona uma quantidade de lípidos digna de um peixe gordo (nem menciona os ácidos gordos separadamente, infelizmente)! (Pode ver, por exemplo, estes valores onde em casa 100g de atum existem 3 g de gordura e quase 1 g de omega 3: http://www.nutritiondata.com/facts/finfish-and-shellfish-products/4149/2)
Apesar de tudo, leiam-se os rótulos!

Madalena
*p.s. - tinha desaconselhado esta variante como boa fonte de omega-3. Obrigada a quem me alertou do contrário (a quem não posso responder porque, o fez anonimamente), pois desde então modifiquei o post e ficámos todos a ganhar.
p.s.2 - também ficou com a impressão que estava a desaconselhar comer atum (e carnes) em termos gerais, o que claramente não estou. O atum pode ser uma escolha muito saudável (e as carnes também).
p.s.3 - agradeço todo o feedback construtivo. Contudo apenas publico os comentários que tenham ambos pertinência/validade nos conteúdos e simpatia na forma. Obrigada.

2 comentários:

Unknown disse...

Cara Dra. Madalena, em relação a este seu post, tenho um comentário, que no fundo acaba por ser uma questão que eu tenho e pela qual tento lutar contra a ignorancia...
Até que ponto a população geral sabe ler realmente os rotulos? Esta questão para mim é um pouco preocupante, já várias vezes me deparei com pessoas que trabalham com alimentação, denominadamente pessoas que trabalham em restauração e hotelaria, e que a unica coisa que sabem é ver as calorias e mesmo assim mal...

Penso que é um ponto importante no qual se deveria trabalhar...1º dar a conhecer o significado da composição dos alimentos e como tal a diferença e a importancia de cada um deles e em segundo lugar ensinar que nada se mede apenas pelo seu valor calórico!

Beijinho
Inês Gil Forte

Anónimo disse...

Dr.ª Madalena,

Gostaria apenas de acrescentar que, apesar de se dizer sempre que o atum é um peixe gordo, e eu como nutricionista também o digo, ao analisar a tabela de composição de alimentos do INSA, chego à conclusão que afinal não é tão gordo como um salmão, sarda, cavala e até mesmo de uma dourada!
Os valores de lípidos por 100g são:
Salmão - 21,9g
Sarda - 11,7g
Sardinha - de 9 a 16,4g
Cavala - 13,4g
Dourada 9,8g
Atum 4,9g

Será mesmo o atum um peixe gordo?

Gostaria de obter o seu feedback. Obrigada pela atenção.
(luquinhasmaria@sapo.pt)